A maternidade não é como te mostram no Instagram

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Nada é mais surpreendente na vida do que ter um filho. Se você é mãe de primeira viagem, esqueça o que viu na TV. Esqueça a romantizarão da maternidade com bebês tranquilos, que mamam certinho, esqueça troca de fraldas sem sujeira, maquiagem no rosto, olhos sem olheiras, sorrisos espontâneos. Tudo isso que te mostram por aí na novelas e filmes não é real, ou é uma parte bem pequena da realidade.

Maternidade real é puerpério punk, choros que parecem show de horrores, bebê chora, mamãe chora. Maternidade real é mãe sem banho, escova de dentes, cabelo despenteado, roupa suja de leite, máquina de lavar cheia de roupinhas manchadas de cocôs que como um tsunami vazam por todos os lados. Maternidade real é avalanche de hormônios, bipolaridade de amor e tristeza, sorrisos e choros descontrolados. Maternidade real é viver seu Burnout todos os dias, pensando a cada segundo que não vai dar conta de cuidar de outra vida, é se achar incapaz. Maternidade real é o leite não descer, o peito inchar, ter mastite, estomatites, tendinite, depressão. Depressão pré parto, pós parto, durante a vida, inúmeras vezes. Maternidade real é contradição, é alegria e solidão, é luz e sombra.

Maternidade real é derrubar farelo de pão no bebê enquanto ele mama e sobreviver daquela talvez única refeição no seu dia. Maternidade real é não dormir e quase enlouquecer com a privação de sono, com bebês com cólicas, que se contorcem e choram copiosamente trocando o dia pela noite. Maternidade real é sofrer amamentando, seja de dor ou de cansaço.

Maternidade real é pesada, um fardo duro de carregar. É pensar o tempo todo no mantra materno “vai passar”, na tentativa de ver alguma luz no fim do túnel dessa avalanche de emoções. Maternidade real é culpa. Muita culpa. É culpar-se o tempo todo porque a amamentação não funciona, o bebê engorda de mais ou de menos, porque vai acabar a licença maternidade e você volta a trabalhar ou porque vai ficar em casa cuidando do bebê. É culpa porque a introdução alimentar não funciona, porque você teve parto cesárea ou porque teve parto normal, porque esqueceu de dar o remédio, porque o filho não saiu agasalhado. Todo dia um novo dia, todo dia uma (ou várias) nova (ou velhas) culpa(s).

Maternidade real é questionar-se todos os dias se fez a coisa certa, se nasceu pra ser mãe. Maternidade real é cercada de pavor, da febre, do engasgo, da rebeldia quando virar adolescente, do filho se mudar pra Australia no futuro e vice viver de saudade, de acontecer algo ruim, de perder aquele ser tão amado gerado por você.

Maternidade real é um banho de água fria num inverno de -30o, um tapa na cara, daqueles inesquecíveis, que vai arder na sua alma até o último dos seus dias.

Quem foi que inventou essa maldita maternidade perfeita, essa maternidade de revista que faz cada mãe real se sentir o ser humano mais desprezível, desqualificado e incompetente da face da Terra?

Cara amiga, não estou te dizendo pra não ser mãe. Ao contrário, te digo apenas que não vai ser fácil, mas vale a pena. O que te digo é para preparar-se, para pensar vem se queres um filho. Eles são pra vida toda e uma nada mole vida. Seja mãe, mas de forma consciente. Não tenha filhos para agradar ao mundo, à família, à sociedade, para se sentir completa, para prender o companheiro ou ter companhia. A vida não se resume à maternidade. Não deve haver obrigação em ser mãe, mas sim deve haver a escolha em ser mãe. A maternidade é difícil demais! E se é difícil para quem tem certeza que quer ser mãe, imagina o quão difícil vai ser se você não tem certeza ou tem argumentos fracos para tornar-se mãe. Não crie falsas expectativas. A maternidade não é como te mostram o Instagram.

Mãe não é divina, não é sagrada. Sempre que tratarmos as mães assim, vamos impor ainda mais a elas uma carga emocional e um peso excessivo de nunca se romper, de nunca padecer, de nunca enlouquecer, de nunca errar. É cruel com a mulher que é mãe, porque antes de ser mãe, está ali um ser humano, errando e aprendendo, com uma alma mortal e cheia de pressões, se desmoronando por dentro, mas tendo que parecer divina por fora. Por que fazemos isso com nossas mulheres? Por que fazemos isso com nós mesmas?

Já é mais do que chegada a hora de desromantizar da maternidade, de discutir esse assunto sem tabu, com todas as verdades para que mães possam escolher serem mães porque querem, porque assim desejam, mesmo sabendo dos desafios imensos, para que haja consciência, reflexão e liberdade.

A maternidade só é verdadeiramente feliz quando aprendemos a vivê-la com realidade e leveza e isso demora, às vezes dias, às vezes anos. Só uma mãe livre (pelo menos na maior parte do tempo) é uma mãe feliz.

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